sexta-feira, 11 de agosto de 2023

As pragas

[em edição]

As pragas que preocupam os agricultores (1) não são os insetos. Para esses existe um arsenal de armas químicas que é utilizado à discrição, com efeitos negativos claros na biodiversidade regional. [estudos?] O principal ponto de reclamação dos agricultores, claramente o foco da reunião com o Secretário Regional, são... as aves. A saber: a rola turca (uma ave em expansão em toda a Europa e um colonizador recente dos Açores) e o pombo da rocha (que já é considerado uma espécie cinegética), mas também o pombo torcaz e o melro (ambas subespécies endémicas).

A Associação Agrícola de São Miguel afirma que quer um controlo populacional daquelas aves, mas que a Diretiva Aves é um colete de forças que não deixa classificar essas espécies como cinegéticas. Para isso defendem a elaboração de um relatório "muito bem sustentado, muito técnico" mas com uma conclusão pré-estabelecida: mostrar às entidades que estão distantes dos Açores que há população a mais e que há consequências económicas dessa população a mais. O objetivo, assumido, é que essas aves deixem de ser protegidas pela Diretiva Aves e possam ser consideradas cinegéticas e portanto abatidas para "controle populacional".

As secretarias regionais da Agricultura e do Ambiente já pediram, pelos vistos, uma autorização à União Europeia, cujo conteúdo é pouco claro. Na reunião, no entanto, o Secretário Regional da Agricultura considerou que o combate a pragas na Região é "mais difícil" por haver espécies de aves protegidas.

O que me preocupa é ver como a pressão dos agricultores (que agricultores?) está a movimentar o poder político sem que, pelos vistos, exista uma quantificação clara do problema, das suas causas e das possíveis soluções. A história da relação dos humanos com a natureza está cheia de casos destes, em que alegados interesses económicos são usados como justificação para degradar a biodiversidade. Estamos num processo de extinção sem precedentes na história do nosso planeta. Deveras que não aprendemos nada como o passado?

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(1) Açoriano Oriental, 11 agosto 2023, versão impressa, p.5

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