domingo, 13 de setembro de 2015

Orçamento com açucar

No final de uma série de audiências aos parceiros sociais e partidos políticos com assento parlamentar, no âmbito da preparação do Plano e Orçamento para 2016, o presidente do Governo Regional congratulou-se por as instituições públicas e privadas da Região terem conseguido efetivar uma “rede de solidariedade social que pudesse amparar os que estão numa situação de maior fragilidade”. Diz o Açoriano Oriental que o presidente “quer continuar a lutar por mais emprego para as famílias açorianas, mobilizando-se toda a sociedade açoriana, visando a requalificação de recursos humanos e incentivos ao investimento privado, bem como apoio às empresas.” Para aliviar a crise das quotas leiteiras, o executivo de Vasco Cordeiro “criou recentemente uma linha de crédito de cerca de 30 milhões de euros e tem feito um investimento “muito significativo” nas áreas que reforçam a competitividade das explorações agrícolas.”

Por outras palavras, reconhece-se que o governo é incapaz de resolver os terríveis problemas sociais causados pela austeridade, tendo a sociedade civil de se mobilizar para apoiar os que vão caindo pelo caminho. O desemprego será resolvido com apoios às empresas- aqui temos socialistas a defenderem a transferência de dinheiros públicos para mãos privadas, na vã esperança de que algum chegue aos que só pedem uma oportunidade para mostrar que têm valor e merecem o trabalho que lhes está constitucionalmente garantido. E quanto à monocultura da vaca, a proposta do governo aos agricultores à beira do abismo a que os conduziu a criminosa Política Agrícola Comum é que dêem um passo em frente: que se endividem ainda mais, que sejam mais competitivos, que produzam mais e mais barato, para Moçambique e para a China.

O presidente, mais que todos os outros, devia denunciar o flagelo da austeridade e lamentar que seja necessário que os cidadãos se mobilizem para oferecer sopas aos seus concidadãos, num gesto que a ambos empouquece. Um presidente devia usar os dinheiros públicos para financiar projetos públicos e cooperativos que criassem verdadeiros empregos, ou denunciar quem não o deixasse fazer isso. E devia reconhecer que o futuro da agricultura numa região ultraperiférica passa pelo local e pela qualidade, preparando o sector para a libertação da subsidiodependência.

Assim, apenas confirma o papel de “polícia bom” que o PS desempenha: aplicando as mesmas políticas neoliberais da direita, só que com mais açucar.

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