quarta-feira, 11 de novembro de 2020

O espetro político e os seus extremismos

No quadro parlamentar, apenas o PCP e BE podem ser considerados partidos de esquerda. IL e C são de extrema direita, por razões diferentes. No Parlamento não há partidos de extrema esquerda

Incluí o IL na extrema direita e fui criticado por isso. Desde então tenho estado a pensar sobre extremismos e os conceitos de direita e esquerda. 

Na altura defini extremista como qualquer ideologia que atente contra os direitos humanos. Proponho esta definição em contraponto ao senso comum, que me parece ser a de que há um arco respeitável de partidos de esquerda e de direita, sendo extremistas (para um lado e para o outro) os partidos que ponham em causa as liberdades e garantias constitucionais. 

Tenho muitas objecções a esta definição. 

Hoje começo pelos conceitos de esquerda e direita, cuja origem histórica precisa de ser recuperada. É de esquerda quem defende a igualdade, a liberdade e a fraternidade, num contexto de democracia total (política E económica); é de direita quem defende ou consente o seu contrário, os privilégios, a opressão, a concentração do poder em oligarquias. 

Na atualidade, é necessário clarificar também a posição relativamente ao sistema económico. Dadas as definições acima, é de esquerda quem defende o socialismo, é de direita quem prefere o capitalismo. Noutro texto já elaborei as definições destes conceitos. Aqui basta dizer que fazer equivaler o socialismo aos regimes da URSS ou da China é ignorância ou desonestidade intelectual. 

Neste quadro, e atendendo à retórica e prática política dos partidos representados no Parlamento, apenas o PCP e o BE podem ser considerados de esquerda. O PS deixou o socialismo na gaveta há décadas, e nem ele nem o PSD podem sequer arrogar-se a definição de social-democratas. Estes partidos estão completamente comprometidos com as doutrinas capitalistas neoliberais, diferindo apenas (i) no grau de assistencialismo que defendem para aqueles que são abandonados pelo sistema e (ii) nos constrangimentos que estão disponíveis para impôr às atividades extractivas, poluentes, ou de alguma outra forma degradantes dos sistemas ecológicos ou do bem-estar animal. 

É neste sentido que o IL é de extrema direita: no melhor espírito laissez-faire, advogam a remoção das poucas barreiras à exploração de pessoas e da natureza que o pudor do centrão ainda mantém. Escudando-se na mão invisível do mercado, e ignorando os resultados destrutivos da aplicação da doutrina neoliberal em países como o Chile, um governo do IL seria social e ecologicamente catastrófico, um atentado em toda a linha aos mais básicos direitos humanos. 


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